Monday, September 7, 2009

Os jornais impressos perderam sua função informativa e agora começam a perder leitores e poder político. Suas gigantescas rotativas estão se tornando antieconômicas". (Bernardo Kucinsky)

Lendo as postagens sobre as dificuldades enfrentadas pelo jornal Monitor Campista, me lembrei de um matéria do jornalista Bernardo Kucinski, publicada na edição de maio deste ano, na Revista Brasil, abordando situações idênticas.

"Parem as máquinas". Este é o título da matéria em que Kucinsky fala sobre a crise que atinge a mídia impressa em diversos outros países. O jornalista fez ampla pesquisa sobre o que anda acontecendo com os principais jornais do mundo, que vêm perdendo feio na queda de braço com a mídia eletrônica.

"Os jornais impressos perderam sua função informativa e agora começam a perder leitores e poder político. Suas gigantescas rotativas estão se tornando antieconômicas", diz Kucinski.

Nos Estados Unidos a internet já supera todos os meios de comunicação como principal fonte regular de notícias. O poder de mobilização da rede é inquestionável. A campanha de Barack Obama foi um exemplo disso, quando milhares de pessoas, por intermédio de redes de relacionamento, doaram U$ 10 para eleger o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

Segundo Kucinski, jornais impressos do Ocidente e do Japão vêm perdendo milhares e milhares de leitores a cada dia. Os cinco maiores jornais do Japão perderam 13 milhões de compradores só nos dois últimos anos. Nos Estados Unidos, em oito dos dez maiores jornais, a debandada foi de 2 milhões de leitores.

Jornais como o Chicago Tribune e Los Angeles Times estão beirando a concordata. O The New York Times e The Washington Post operam no vermelho. Outros quatro centenários - como o Christian Science Monitor e o Post Intelligencer - abandonaram de vez o papel impresso e só podem ser lidos hoje na internet. Algumas cidades dos Estados Unidos já não possuem mais imprensa local diária.

Algumas outras medidas adotadas pelos jornais americanos para tentar superar a crise: extinção de uma ou duas edições por semana, redução de páginas, eliminação de suplementos literários, incorporação de seções, demissão de até metade de suas redações e corte de até 5% dos salários mais altos.

Os jornais ingleses também não escaparam da crise. Vejam abaixo os índices de perda de leitores registrados por lá:

- The Independent - 14%
- The Guardian - 6%
- Daily Telegraph - 5%
- Financial Times - 3%
- The Times - 2,5%

No Ocidente, quem ainda está mantendo o fôlego são os jornais populares. Entre eles, o USA Today que, com 2 milhões de exemplares, adotou desde o início o texto curto próprio da internet; o tablóide escandaloso Bild, da Alemanha, com 4 milhões de exemplares, e os tablóides ingleses Mirror e Daily Mail com, respectivamente, 2 milhões e 1,5 milhão de exemplares.

Embora de forma mais lenta, o declínio também já vem se desenhando na França. Atendendo a um pedido de socorro dos jornalistas franceses, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou, há alguns meses, ajuda no valor de 600 milhões de libras esterlinas em um pacote que inclui isenções fiscais, aumento nas verbas publicitárias do Estado, além de outras medidas.

"É o fim da arrogância dos grandes jornais impressos do Ocidente; do tempo em que um editorial do Times derrubava um ministro. Esse processo vinha se dando por etapas, quase imperceptíveis, mas agora assume ritmo dramático e irreversível", avalia Kucinsky, que compara essa queda à dos jornais anarquistas e de esquerda, que sucumbiram ante o fim ou enfraquecimento desses movimentos. "É como se essa burguesia e seus jornais não tivessem
mais a dizer, em especial depois do desmoronamento dos grandes bancos do Ocidente", diz.

Para Paschoal Serrano, responsável pelo site espanhol Rebellion, primeiro esses jornais perderam sua principal função, a noticiosa, quando o público descobriu que não precisa comprar jornal para saber o que se passa. "Depois perderam sua função mediadora, porque se afastaram dos problemas reais da sociedade", avalia Serrano.

A saída pode estar na internet? Em tese, sim. Segundo a reportagem de Kucinsky, é fato que o número de leitores das versões on-line cresce, mas pouquíssimos se propõem a pagar pelo acesso. O que fazer, então? O Financial Times é um dos poucos que está conseguindo cobrar pelos acessos, "porque caprichou na profundidade e especialização de sua informação econômica." E quem paga por eles "são as empresas ou investidores para os quais a informação tem valor monetário, não apenas informativo", conta Kucinsky. Ele diz ainda que o Times digitalizou seu acervo, que contém a história viva dos tempos modernos, e com isso consegue cobrar de pesquisadores. "Mas na maioria dos jornais a cobrança não funcionou e foi abandonada", lembra.

E finaliza: "Todas as propostas de um novo modelo de negócios para o diário impresso passam pela sua combinação com o on-line. Para torná-la rentável, há dois caminhos principais: acordos com sites que vendem mercadorias e acordos com sites de leitura para que paguem pelos conteúdos que usam. Cobrar pelo acesso? Só em último caso".

Portanto, a crise não é uma exclusividade de o Monitor Campista. Mais cedo ou mais tarde, ela atingirá os outros, que já devem ir pensando em soluções criativas, caso não queiram parar suas máquinas.


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